A Latinha de Cerveja

Ontem, enquanto aguardava em fila no transito, o verde de um semáforo, reparei que do carro da frente voou uma latinha, ainda espirrando cerveja em direção ao chão. Dentro do veículo, quatro ou cinco pessoas, jovens, se movimentavam freneticamente estimuladas por um som elevado (não posso chamar-lhe música), onde predominava o barulho estridente de um “subwoofer” que dominava com seus graves todas as restantes frequências assim como todo o ambiente num raio de 50 metros. Como já tenho feito noutras situações, abri a porta do meu carro, sai, apanhei a latinha toda “besuntada” e ainda meio cheia de cerveja, rodeei num movimento sereno o “veículo infrator”, sem olhar nem dizer nada e coloquei o “objeto de delito” num recipiente próprio que abraçava um poste, ali mesmo na calçada. Retomei ao carro na mesa postura e sempre sem olhar os passageiros senti o repentino baixar do som e o silêncio dos ocupantes que, pude perceber, seguiam o meu inusitado movimento com o olhar. Entrei no meu carro e e já sem ser observado, identifiquei o sussurro dos ocupantes, moças e moços que disfarçavam num encolher de ombros, um sorriso de embaraço como quem diz: tirem-me daqui!

A minha atitude determinada e não provocativa (não olhei nem falei nada), dissipou qualquer eventual foco ou impulso de agressividade e a firme serenidade dos meus movimentos, desestimulou qualquer reação pela possibilidade que lhes foi dada (tempo e ação), de terem substituído essa potencial reação, pela observação reconhecida do seu erro. Foi um muito bom exemplo da utilização eficaz da comunicação não agressiva e da atitude eficiente, não reativa, na educação do próximo, através do assumir da atitude proativa e responsável de dar o exemplo, sem cobranças nem julgamentos, fazendo a minha parte.

Eu sei que não tenho o direto de controlar e julgar ofensivamente e ou ostensivamente as atitudes dos outros, mesmo que visivelmente incorretas, mas também sei que não gosto de ver latinhas de cerveja no chão.

Não sei se as pessoas em causa vão voltar a jogar objetos pela janela do carro, mas pelo que me fala a minha intuição, há uma grande probabilidade de isso não acontecer, porque os  princípios da assertividade podem manifestar-se assim, em coisas e situações tão simples, como aquelas de que é feita a vida, afinal.

Aos protagonistas deste episódio, envio aqui um especial abraço, com os votos de que um dia, ainda descubram os genuínos prazeres  de “curtir” uma boa música.

 

por, Daniel Figueiredo

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