Educação da sensibilidade. Assim pode ser definido, em uma única expressão, o ensino de Arte. O que isso significa? Perceber crianças e adolescentes de forma integral e mobilizar suas capacidades para que possam participar plenamente das culturas, conhecendo, apreciando, criando e pensando sobre a produção humana de seu tempo e de outros tempos. A Arte desempenha, portanto, um papel fundamental na educação. Certo? Em parte… “A Arte pode ter muitos papéis, pois tem muitos alcances. Pode fortalecer a identidade, pelo conhecimento das culturas das quais o aluno participa. Pode ampliar a visão de mundo, pelo contato com a produção artística de outros tempos e lugares. Pode dar à criança um espaço de expressão e de participação como produtora de cultura. Pode e deve integrar-se com outras áreas do conhecimento, permitindo uma maior compreensão do mundo”, diz Selma Moura, mestre em Linguagem e Educação pela USP e professora há 16 anos. “Conhecer diferentes processos artísticos e, por conseguinte, diferentes processos de criação, interferem no processo de aprendizagem no sentido de se estar atento aos diferentes tipos de inteligência, respeitando e valorizando as diferenças de cada aluno. Essa atitude acrescenta possibilidades de discussões enriquecedoras que fazem com que os alunos se percebam como sujeitos ativos de sua própria aprendizagem”, acrescenta Mônica Bolsoni, professora de Artes Plásticas e História da Arte do CAP UERJ e Coordenadora do Pólo UERJ Arte na Escola. Mas, segundo Mônica, expectativas anacrônicas a respeito dos objetivos das aulas de Artes ainda persistem. “O tempo de aula e a falta de salas específicas demonstram não haver atenção merecida e provam desconhecimento da importância do ensino das Artes na formação dos alunos”, opina. Uma das formas de mudar esta situação, valorizando e utilizando todo o potencial da Educação Artística, é se aproximar da realidade. “Utilizar temas relevantes do momento, relacionar aspectos históricos e propor atividades e ações que carreguem significado durante todo o seu processo”, observa Mônica Bolsoni. E se o objetivo é aproximar os conteúdos com a vida e a realidade dos alunos, a cultura popular não pode ficar de fora. Sobretudo em um país como o Brasil, com uma produção vasta e diversificada. “É claro que todas as crianças têm direito a conhecer os nomes consagrados na Arte, mas não podemos descuidar também da realidade social de cada aluno, de cada escola, de cada cidade. Nossa produção artística – acadêmica e popular – é riquíssima e não faz sentido ignorá-las ao trabalhar Artes na escola”. Por isso, visitar comunidades, conhecer grupos tradicionais, apreciar manifestações como o grafite e o rap e valorizar os conhecimentos trazidos pelas crianças é tão importante quanto visitar museus. “Ao valorizar os conhecimentos das comunidades, fortalecemos a auto-estima das crianças e dos jovens, tornamos a aprendizagem mais significativa e legitimamos o conhecimento popular como digno e válido, ajudando a formar para a cidadania, o respeito à diversidade e a valorização da pluralidade cultural”.